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À espera de uma Família

À espera de uma Família

4 de outubro de 2009



Crianças que crescem sem saber o que é ter um pai, uma mãe, um lar de verdade.



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Crianças que crescem sem saber o que é ter um pai, uma mãe, um lar de verdade. Elas lotam os abrigos do país e sonham viver em família. O que o poder público, o terceiro setor e os voluntários fazem pelas nossas crianças...
 O Abrigo Dom Paulo Evaristo Arns, na zona sul de São Paulo, está em festa. Voluntários animam o Dia das Crianças. Preparam o almoço, uma linda mesa de doces, fazem brincadeiras, distribuem presentes... “Nós temos uma equipe de voluntários maravilhosa, são várias equipes que fazem as festinhas, tenho os que fazem a festa dos aniversariantes do mês, então, naquele mês, e aquele bolo, aquele parabéns para aqueles aniversariantes, isso acontece mensalmente”, conta Caroline Garcia, diretora do abrigo. Para Guilherme, é um dia mais do que especial. Ele está deixando a casa. Ganhou de presente o que todos os colegas do abrigo desejam: uma família de verdade. “A gente está aumentando a nossa família, que é uma coisa que a gente sempre quis, uma família grande, gostosa e legal, a gente já tem o Josias, a gente deu um tempo, o Josias chegou para nós há quatro anos, chegou exatamente com dois anos e nove meses também e a gente estava esperando essa data para aumentar a família, ele está superansioso, ele está esperando, ele que quis a roupa igual, porque eles são gêmeos”, conta Margarida Mota, professora e mãe adotiva. Na casa, moram 20 crianças e adolescentes, que aproveitaram a festa para se despedir do Guilherme. Estudos do IPEA, indicam que 200 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos no Brasil. Nem todos podem ser adotados. “Sempre que nós recebemos uma criança em situação de risco, nós trabalhamos no sentido de identificar esse risco, suprimir esse risco, evitar o abrigamento da criança, estimular o retorno da criança para os pais ou especificamente para a mãe porque pai quase nunca tem. Não sendo possível devolver a criança ou adolescente para os pais nós tentamos a colocação na família biológica, tio, tia, avó, primo, irmão, ou alguém da família extensiva, aí já entram madrinha, algum agregado familiar que tenha relação positiva ou saudável com essa criança, em último caso nós vamos para a adoção”, explica o juiz Firmino Magnani Filho, da Vara da Infância e Juventude. Todo o processo pode demorar anos. Enquanto isso, nos abrigos, as crianças crescem e fica mais difícil a chance de conseguir uma família. “As crianças que estão disponíveis na casa para adoção é um casal de irmãos de 9 e 10 anos e duas irmãs de 5 e 6 anos. Nessa faixa etária é bastante complicada a adoção no Brasil”, declara Caroline. “De um modo geral no Brasil o que se busca são crianças brancas, recém-nascidas, preferencialmente meninas”, completa o juiz. Em São Paulo, uma fundação criou um serviço telefônico, totalmente gratuito, que orienta e tira dúvidas sobre adoção. “O Alô Vida veio para tentar ajudar a informar melhor, mostrar os caminhos, cortar caminhos, dizer assim, ganhar tempo, porque uma criança, para ser adotada não pode esperar”, explica Sérgio Amoroso, presidente da Fundação. Desse lado da linha, psicólogas e assistentes sociais também ajudam a quebrar preconceitos. “Famílias que não colocam tantos critérios, como, quero bebê, menina, quero branco, tem mais probabilidade de efetivar a sua adoção mais rapidamente”, orienta Lis Angelis Menezes, coordenadora do alô Vida. O primeiro filho de Cássia e Marcelo chegou há sete anos. O menino ganhou o nome do pai. Marcelinho entrou para a família com apenas um mês de vida. “A gente tinha muitas meninas pequenas na família e não tinha nenhum menino, por isso a gente queria menino e bebê porque como a gente não tinha filho, queria um bebê para cuidar, para ver como funcionava”, conta Rita de Cássia Lins, professora e mãe adotiva. Todo o processo da adoção levou seis meses. Na última hora, uma surpresa. “Fui ao médico porque eu estava me sentindo muito mal e descobri que estava grávida. Na semana seguinte me ligaram que tinha um bebê, se a gente queria conhecer, aí nós fomos e trouxemos o Marcelinho de presente”, diz Rita. Sete meses depois, Marcelo ganhou a companhia de Ricardo. Com praticamente a mesma idade, os irmãos são, muitas vezes, considerados gêmeos. Marcelo sempre explica: “Ah, não, a gente não é, eu vim do coração da mamãe, ela foi me buscar, eu fui adotado”, diz Marcelo. “Ele chega, na rua mesmo, as pessoas vêm perguntar e ele fala não, nós não somos gêmeos, eu sou adotado, sou do coração”, complementa Marcelo Lins, funcionário público e pai adotivo.

 
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