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ADOÇÃO: Não importava a idade

ADOÇÃO: Não importava a idade

19 de janeiro de 2011




Uma nova família para Maria de Fátima, 7 anos de idade. Ela chegou ao abrigo Tia Júlia quando tinha um ano de idade. De lá até conhecer Ana Célia Vieira e Antônio Carlos Alexandre, conviveu com a tristeza de ser devolvida por duas famílias, sem qualquer explicação. Segundo Joselita Maria Camelo Oliveira, psicóloga do Juizado da Infância e Juventude, a devolução deixa marcas profundas. “A criança devolvida pode ter dificuldades de criar novos vínculos, de se abrir novamente. Ela tem maior resistência em se abrir de novo, e vai perdendo a confiança”. A psicóloga explicou que por isso frases do tipo “você não é meu pai” surgem. “A criança testa os pais, não somente o filho adotivo, o filho biológico também faz isso. Nesse momento, é importante que os pais demonstrem confiança, segurança e amor”, disse. (...)




Ana Célia e Antônio Carlos estão casados há dez anos e se mostram realistas frente às dificuldades. “Nós sabemos que a convivência é difícil, principalmente para ela que já passou por tanta dificuldade, mas acreditamos que com amor, carinho, atenção, se tornará mais fácil”, disse ele. Antônio Carlos tem sete irmãos e sabe o que é o abandono. Seu pai deixou a família ainda quando os filhos eram crianças e ele teve de batalhar para sobreviver. “Tudo foi muito difícil depois que meu pai nos deixou, tive de virar adulto mais cedo, cuidar dos meus irmãos e da minha mãe. Conheço a dor do abandono e jamais faria isso com uma criança. A Maria de Fátima veio para nós como uma dádiva e é aqui onde ela ficará”.



“Hoje eu tô feliz”, disse a menina ao se aconchegar de mansinho no colo da mãe. O casal tem dois filhos, de oito e nove anos, mas foi o sonho de ter uma filha que levou Ana Célia e Antônio Carlos a buscar nos abrigos de Fortaleza essa realização. ”Eu sonhava em ter uma menina, não importava a idade, não queria mais engravidar, então buscamos realizar esse sonho através da adoção”. disse. O sonho aos poucos foi virando realidade com a chegada de Maria de Fátima. “Desde o primeiro momento que nos vimos já nos apegamos de cara. Muita gente não entende quando falo isso, mas não há mesmo explicação. Da parte dela também acho que foi assim”, conta Ana Célia sobre a primeira visita ao abrigo.



Ana Célia explica que o fato de ter dois filhos nunca foi empecilho para a chegada de Maria de Fátima. Pelo contrário, os meninos adoraram a nova companhia. “Desde o primeiro dia, lá mesmo no abrigo já começaram a brincar. Foi então que eu senti que seria ela mesmo que iríamos abraçar”.



Amar sem distinção de um filho para o outro



Há pouco mais de três meses no novo lar, Maria de Fátima parece adaptada com os irmãos. “Quando não estão na escola, passam o dia brincando”, disse o pai. Ana Célia não esconde a satisfação em ter uma menina em casa. “Ela é muito companheira. Veio na hora certa e estamos muito felizes com a sua chegada. Aos poucos a gente passa a amar mesmo, de verdade, sem distinção de um filho para o outro. Eu dizia para meu esposo, a gente não escolhe uma criança, a criança que escolhe a gente, e eu tenho certeza que a Maria de Fátima nos escolheu”, diz ela sem conseguir conter as lágrimas.



Ana Célia e Antônio Carlos ainda tiveram de encarar o preconceito de outras pessoas. “Muita gente, até mesmo da família criticava nossa decisão sobre a adoção dela, principalmente pela idade que ela tem, mas nunca nos deixamos abater”. Os traumas sofridos pelas duas devoluções parecem ter marcado Maria de Fátima. “Logo quando chegou ela quase não falava, mas fomos ajudando, explicando as coisas e ela tem mudado muito. Sabemos que temos que ter paciência”, disse a mãe.



Os pais de Maria de Fátima são conscientes que de que os desafios serão grandes daqui para frente. Para superar os traumas a menina faz acompanhamento psicológico e é observada de perto. “Percebo que aos poucos ela vai vencendo suas próprias dificuldades. O primeiro dia que me chamou de mãe, por exemplo, foi marcante. A criança não sabe mentir, ela não finge o que sente, não tem malícia. Então se ela me chamou assim é porque realmente ela me vê assim”.



As histórias de Luciano, Ana Célia e Antônio Carlos têm muito em comum. Não apenas pela satisfação que respectivos filhos adotivos trouxeram, mas, sobretudo pelo fato de serem pessoas que abriram seus corações para a adoção tardia. Essas famílias viram nesta possibilidade uma chance a mais para encontrar a felicidade.





 
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