Você está em: Home »Sem Marcador »Nova Série "Filhos do Coração" : Conheça o momento em que a família se forma
Hoje você vai conhecer duas mães: uma que mudou a vida para ficar perto dos filhos e outra que descobriu a maternidade adotando uma adolescente.
Dez meses longe dos filhos. Odete queria poder esquecer. “Chorava dia e noite, dia e noite sem parar...”, fala Odete Alves Borges, diarista.
As crianças foram para um abrigo por causa das agressões do padrasto. A mãe recebeu apoio de uma Organização Não-Governamental para ter os filhos de volta.
Odete se separou do marido agressor, alugou uma casa, conseguiu emprego e a justiça avaliou que ela podia cuidar das crianças. “Todos os dias eu agradeço por acordar, olhar para o lado e meus filhos tão ali”.
A nova lei da adoção reafirma o que já estava previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente: a prioridade é que os filhos fiquem com as famílias biológicas. Desde que a família dê um ambiente seguro para a criança, sem violência doméstica, livre do uso de drogas.
“O direito é sempre da criança. Pai e mãe têm obrigação com a criança, não tem direito dela. A criança é que tem direito a estar com seu pai e sua mãe se eles forem bons para ela”, explica José Antonio Daltoé, juiz.
Em muitos casos as tentativas de reaproximação com a família podem ser traumáticas.
“O que acontece é que essas famílias precisariam de um tempo enorme para se reestruturarem e as crianças estão crescendo e não dá para gente aguardar. É como se fossem relógios que rodam com ponteiros e velocidades distintos. O relógio da criança gira muito rápido e o relógio da família gira devagar, é um tempo longo demais que a gente não pode aguardar com a criança ali abrigada, apartada da sociedade”, esclarece a juíza, Cristina Cordeiro.
Foi o que aconteceu com cinco irmãos que vivem num abrigo em Petrópolis, na região serrana do Rio. Vieram porque sofriam graves maus tratos. Depois de dois anos sem receber visitas, em 2007, famílias se interessaram pela adoção.
Contudo, a mãe reapareceu. A justiça mandou todos eles de volta para casa e um mês depois, foram novamente abandonados. O choque foi tão grande, que hoje apenas o caçula sonha com novos pais. “Eu todo dia eu rezo. Eu falo para ele para me ajudar a achar uma família que gosta de mim mesmo”, fala a criança.
Amor... Esse é o segredo para mudar a vida de crianças que passaram parte da infância em abrigos e o que não falta é gente interessada em participar dessa transformação.
Numa sala encontramos pais dispostos a aprender. O caminho pode até parecer difícil, mas juntos, com a troca de experiências, eles aprendem como lidar com as situações do dia-a-dia e como construir uma relação de confiança com os filhos.
A felicidade é contagiante. Os grupos de adoção espalhados pelo país têm ajudado a aumentar a quantidade de crianças maiores de três anos e adolescentes adotados.
“Eu falo que adoção tardia tem que ser um encontro de um com o outro, tem que ser um encontro entre você o outro, não é assim ah eu quero adotar uma menina de onze anos e tal no papel, mas eu tenho que enxergar a menina, a menina tem que me enxergar”, diz Fabiana Toledo, psicóloga.
Um encontro como a Thainá, de 12 anos, e os novos pais. “Foi amor a primeira vista, ai a gente começou, ai ela também foi se chegando”, fala a mãe de Thainá.
“Ela sempre tímida olhava pra mim ria, eu comecei a brincar com ela, ‘pô tu não fala não’, comecei a brincar com ela”, completa o pai.
A relação foi construída aos poucos. Um ano de visitas para Thainá vencer a timidez e fazer o pedido: “Tia eu quero falar um negócio com você, mas esse negócio demorou uma meia hora pra falar, deu a volta ao mundo pra poder falar, ficou alisando a minha mão, alisando minha mão, não foi filha, a voz trêmula, suava a mão, eu queria bem que você fosse minha mãe e tio Dinilson fosse meu pai, quando ela falou isso eu não podia falar nada. Respirei fundo, eu falei vamos pedir a deus. Foi assim”, conta a mãe.
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